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Quanto Mais Quente Melhor

Doces com coração (e umas coisas salgadas pelo meio). Food porn descarado da cozinha (e das viagens) de uma jornalista doceira.

Rabanadas poveiras (na Páscoa como no Natal)

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 A Páscoa foi a norte, na Póvoa de Varzim. Já é certo que qualquer viagem a norte dá em encontro de mesa cheia e em regresso de barriga carregada. E esta cumpriu a regra.

 

Esta Páscoa provei finalmente algo de que há muito me falavam: as rabanadas poveiras.

 

Ao contrário das rabanadas tradicionais, feitas com pão cortado, as poveiras são pequenas bolas de pecado, feitas a partir de pães bijou do dia anterior.

 

Diz-me o meu irmão (que mora na zona) que as compra na casa de uma senhora já de idade. Sozinha, sentada em frente a um panelão, vai virando cada rabanada com carinho e todas as que dali saem para venda são feitas no momento. Seguem todas quentinhas, portanto.

 

No Natal a fila é difícil de suportar mas, desta vez, na Páscoa, altura em que a procura das rabanadas também aumenta, lá se conseguiu chegar à iguaria.

 

A acompanhá-las vem uma calda de frutos secos. Uma colherada a escorrer por cima de cada uma torna a delícia ainda mais pecaminosa.

 

Não é para comer todos os dias mas é para comer quando se for à Póvoa, especialmente se nunca se provou.

Lanche de domingo

Ontem houve reunião familiar lá em casa, oportunidade sempre segura para experimentar novas coisas boas e arriscar na cozinha. Sete pessoas à mesa são cobaias suficientes para abusar nos cozinhados.

 

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 Aquele que já se tornou um clássico dos lanches com o selo Quanto Mais Quente Melhor não podia faltar. O nosso Pão Doce Especial é sempre uma aposta segura para acompanhar um cházinho.

 

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Depois, houve uma tentativa (sim, uma tentativa, que é preciso assumir quando a coisa não sai perfeita) de levar para a mesa pampilhos. No fundo, sabia que o doce ribatejano de que vos falei há pouco tempo não ia sair com o original. A verdade é que sobraram muito poucos e não houve queixas (não havia ribatejanos na mesa, convém pesar esse fator). Não lhes chamaria pampilhos, talvez antes biscoitos amanteigados com recheio de ovos e canela e, nesse papel, saíram-se muito bem.

 

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Mas aquilo que impressionou verdadeiramente os comensais, e basta olhar para a imagem para ver como é fácil impressionar com este docinho, foi uma receita nova de Bolo Bundt de Chocolate que testei nas minhas cobaias.

 

É tão bom como a fotografia promete e eu prometo a receita aqui em breve.

 

 

Aventuras gastronómicas em NYC

Não quero voltar a esfregar isto na cara das pessoas porque é um golpe baixo mas acabei de voltar de férias e andei por Nova Iorque. Pronto, agora só vos vou esfregar na cara mais umas coisas boas que comi por lá, uma espécie de Top 3 (pelo menos da minha viagem) de coisas gulosas a não perder na Big Apple.

 

Lembram-se da minha batalha contra o Cronut? Pois é, acidentalmente e sem qualquer esforço acabei a comer um na Dominique Ansel Bakery, no Soho. "You were lucky, they're usually sold out by this time", lá nos disseram umas senhoras quando entrámos na pastelaria pelas 8h45, apenas esperando comer outra coisa qualquer e contemplar cronuts comidos por outros, e encontrámos - afinal - uma fila relativamente modesta e cronuts com fartura por vender.

 

E não é que vale a pena? Imaginem uma fartura que fez o amor com um croissant e deixou um donut juntar-se à festa. Pelo meio, um recheio que neste caso era de pera e salva (mudam todos os meses) e em cima uma cobertura de açúcar e limão. De morrer. Claro que ainda tenho dúvidas de que justifique as filas à porta às 7h da manhã. Mas lá que é bom, é.

 

 
Highlight número dois: jantar no 54 Below. É um daqueles restaurantes de produtor da Broadway, na cave do Studio 54. Parámos por lá para encher a barriga antes de ver a versão de palco de "Cabaret" (Michelle Williams como Sally Bowles, Allan Cumming como mestre de cerimónias, encenação do Sam Mendes, coreografia do Rob Marshall...ufa) em cena cá em cima no teatro.
 
 
O ar é de antigo speakeasy, formal na comida mas muito informal no serviço, no acolhimento e no dress code. Tem atuações todas as noites mas nós perdemo-las porque tínhamos de correr para o musical.
 
Provei estas coisas boas aqui em baixo e valeram o número final na conta. Podem ir à confiança.
 
 
Para arrumar o top, paragem obrigatória: um dos Alice's Tea Cup. Há três em toda a cidade, são uma casa de chá com brunch maravilhoso e chás de cair para o lado. Para além disso, cereja das cerejas no topo do bolo, uma decoração que, como o nome do estabelecimento indica, transforma o estaminé numa página de Alice no País das Maravilhas.

 

 

Escolhemos o chá para dois a fingir que era brunch. Vem servido à inglesa, num torre toda lindona e inclui um bule de chá, ovos escalfados, muesli com iogurte e dois scones...

 

...vamos demorar-nos aqui um pouco...O Alice's Tea Cup é quase lendário pelos seus scones. Todos os dias, há sabores diferentes, salgados e doces. Só provámos o de Mixed Berries e o de Chocolate and Salted Caramel mas pela prova podemos assegurar que devem ser todos de comer e chorar por mais. Vejam e babem-se. Prometo que parei por aqui.

 

Esta semana, na Time Out Lisboa

Os amigos da Time Out Lisboa provaram os meus Biscoitos Brownie e a minha Tarte de Morangos e Mascarpone com Crosta de Chocolate. Diz que gostaram e tiveram a amabilidade de dar destaque ao Quanto Mais Quente Melhor na revista desta semana. 

 

Um obrigada à simpática (e sempre útil) Time Out Lisboa.

 

Para os que de vocês quiserem ter nas mãos ou na boca os biscoitos desta página, já sabem que podem fazer a vossa encomenda através do e-mail quantomaisquentemelhor1@gmail.com. E se quiserem provar outras coisas boas, espreitem a nossa ementa.

 

Luxo de lanche

A semana tem sido de férias caseiras, que viajar é só mais à frente. E férias não significam para mim largar a cozinha, pelo contrário.

 

 

Ontem, tive cobaias cá por casa e fiz um lanche luxuoso para dar a provar. O Pão Doce Especial do Quanto Mais Quente Melhor nunca falta para acompanhar um chá acabado de fazer mas, porque estava inspirada, atirei-me a outra coisa...

 

 

O Red Velvet Cake é um clássico americano a que tenho sempre alguma resistência porque não sou moça de usar corantes mas a verdade é que se me derem um cupcake red velvet da Hummingbird Bakery eu não recuso a prova. Convenhamos, o corante não tem nada que ver com o sabor ou textura finais do bolo que, por acaso, são extraordinariamente impactantes, mas seguindo a lógica "os olhos também comem", a verdade é que um bolo vermelho é coisa de encher a vista.

 

E pronto, ontem rendi-me e fiz esta beleza de cor rubi. Usei a receita do "Hummingbird Bakery Cookbook" (está no capítulo dos cupcakes mas tem instruções para transformar as dosagens nas perfeitas para este bolo) e fiz umas pequenas alterações. Deixar-vos-ei aqui a receita em breve.

Ratatouille e outras coisas boas na Disneyland Paris

Primeiro veio o prato, depois o filme e agora a atração. O Chef roedor mais famoso do mundo já tem direito ao seu cantinho na Disneyland Paris, o primeiro de todos os parques centrados no universo criado por Walt Disney a ter um espaço dedicado ao filme Ratatouille. Por outras andanças que nada têm que ver com este blog, fui em trabalho à abertura oficial da nova "mini-terra" (é o termo convencionado) e porque houve comida de uma ponta à outra da viagem, acho que faz sentido dizer aqui umas coisas.

 

Primeiro, uma pequena descrição da Place de Rémy: Há uma atração que leva os visitantes numa viagem pela cozinha do Chef Gusteau e pelos telhados de Paris, sempre na perspetiva de um rato. Há tecnologia 3D de ponta, cheiros, sensações e a melhor animação do filme numa outra escala. Ao lado, há-de haver uma loja que abrirá lá mais para a frente, mas há já um novo restaurante, o Bistrot Chéz Rémy, onde é servido um menú à la carte inspirado no universo do ratito.

Claro, o ratatouille é o prato que não podia faltar mas há muitas outras coisas para provar, incluindo produtos locais, como o queijo Brie de Meux, ali de pertinho, ou um vinho e um champanhe criados especialmente para serem servidos no restaurante. Também ali nos sentimos do tamanho de um rato. As mesas são feitas à imagem de tampas de frascos de compota e as cadeiras são cópias de rolhas de garrafas de champanhe. Lindinho até não poder mais.

 

Foi um fartote de comida: jantámos a bordo de um barco no Sena, fora da Disneyland, é certo, mas a seguir os passos de Rémy; almoçámos no recém-inaugurado Bistrot, onde nos sentimos como ratos mas comemos que nem gente grande. Terminámos o fim de semana com um brunch na Disney Village com direito a abracinhos a personagens. Que aqui andamos sempre aos abracinhos e isso não tem mal nenhum.

 

 

A Place de Rémy abre ao público a 10 de julho. Passem por lá para se sentirem que nem ratos.

Londres: There and back again

Se notaram a minha ausência no blog, ela deveu-se a umas mini-férias muito bem aproveitadas em Londres.

 

No que à gastronomia diz respeito, andei nas aventuras da Street Food, comi num dos muitos restaurantes do Jamie Oliver (e comi muito bem), provei um cupcake na Hummingbird Bakery e fiz compras de gadgets culinários e livros da especialidade que nem uma desalmada.

 

Enchi o Instagram e o Facebook de fotos mete-nojo mas hoje só vos obrigo a ver mais uma, a desta pavlova com framboesas, honey comb e um fio de chocolate, provada no Jamie's Italian de Covent Garden.

 

 

Agora, volto à atividade nacional no Quanto Mais Quente Melhor com mais receitas brevemente e sempre à espera das vossas encomendas através do e-mail quantomaisquentemelhor1@gmail.com

 

Espreitem a nossa ementa aqui.

Viaggio in Italia - Parte 2

 

Depois de umas fatias de pizza inesquecíveis em Nápoles, seguimos viagem.

Por todo o país tivemos encontros imediatos com bons gelados. Mas o coup de foudre, não ao primeiro olhar mas ao primeiro contacto com as papilas gustativas, só aconteceu em Roma. Mais precisamente na Via Uffici del Vicario, na gelataria Giolitti. A mais antiga de Roma, dizem, perto do Panteão e nada fácil de encontrar mesmo com um mapa nas mãos (ou então tudo se explica pela inaptidão em nos orientarmos por novos territórios).

 


Uma longa bancada com dezenas de sabores (esta imagem mostra apenas uma parte dessa bancada). Alguns facilmente identificáveis. Outros nem tanto. Cocomero é Melancia. Lamponi é Framboesa. Visciole é Ginja. E fico-me apenas pelos avermelhados. Ao lado do Cioccolato temos até Champagne. Podemos escolher entre um Coni Piccoli, de tamanho normal. Um Medi, de tamanho médio e com o rebordo coberto de chocolate, e um Grandi, ligeiramente maior e com rebordo de chocolate branco.  Existe ainda um Giganti mas imagino que seja apenas para quem está demasiado entusiasmado
Avançámos sem medo para a segunda hipótese: um cone médio com três sabores. Tarefa árdua, a de escolher apenas três sabores no Giolitti... Para nos apaziguar a inquietação, ouvimos uma palavra em jeito de pergunta: "Panna?" E fomos surpreendidos com uma dose farta de chantilly pousada em cima do nosso gelado.

 Obrigado, Giolitti. Obrigado, Itália...

flickr / adamspencercook

Viaggio in Italia - Parte 1

 

Voltei há alguns dias de uma viagem por Itália que, em números, se pode resumir desta forma: 2300 quilómetros percorridos dentro de 1 carro com mais 3 pessoas e algumas dezenas a pé por 7 cidades italianas. Tudo em 9 dias.

 

Pelo caminho fui-me alimentando, claro. Umas vezes melhor, outras pior. Decidi escolher dois exemplos, retirados do catálogo de ex-libris gastronómicos transalpinos. Uma pizza em Nápoles e um gelado em Roma. Clichés? Talvez. Mas clichés deliciosos.

 

Começamos pela pizza. O tesouro fica perto do centro histórico de Napóles e não é difícil de encontrar. Será provavelmente no local com mais pessoas à porta. Chama-se L' Antica Pizzeria da Michele e ostenta com orgulho, logo abaixo do nome, o aviso de que aquela é a única sede em Itália. Estão feitas as apresentações. Já podemos entrar. Esperam-nos quatro surpresas.

 

flickr / usc_ty

 

A primeira está no menu. Um menu de duas modestas pizzas, o que, para ser correcto, torna ainda mais simples a escolha. "Uma de cada, por favor." Até porque cada uma custa apenas 5 euros (esta é a segunda surpresa).

 

Enquanto esperamos pelas nossas pizzas (uma Margherita, com tomate, queijo, azeite e manjericão, e uma Marinara, com tomate, alho, azeite e oregãos, ambas de massa fina mas nunca seca) reparamos numa foto de Julia Roberts envolvida licitamente com uma fatia de pizza. A espera leva-nos a identificar que, nessa imagem, a atriz está na Pizzeria da Michele, até que (terceira surpresa) acabamos por perceber que essa imagem faz parte de uma das cenas do filme "Comer, Orar e Amar"

 

A última surpresa fica para o final quando pomos verdadeiramente mãos à obra. Depois de dar a primeira trincadela numa fatia de pizza, a personagem de Julia Roberts diz: "Estou apaixonada. Estou a ter uma relação com a minha pizza." Torcemos o nariz à hipótese de fazer nossas as palavras de uma personagem de um filme onde se parte em viagem para "Comer na Itália, Orar na Índia, Amar na Indonésia" mas não há outra opção.

 

 

                                                             flickr - keepwaddling1                                                                 

Já sabem o que fazer se alguma vez estiverem por Nápoles (e conseguirem escapar ao espírito frenético de uma cidade que não se deixa conquistar à primeira).
(Brevemente: a segunda parte deste post, dedicado a um gelado inesquecível provado em Roma)

  

Uma cozinha no mar

Foi a segunda vez que entrei numa cozinha de um navio. Algures no meio do Adriático, a meio caminho entre Argostoli e Veneza, abriram-nos as portas para uma espreitadela à galley do Splendour of the Seas (o termo aplica-se a cozinhas em andamento, em aviões, comboios ou barcos/navios).

 

Todo o dia, literalmente 24/7, a comida chega a todo o lado no navio. É coisa que não falta, às vezes dá vontade de pedir a alguém para pararem de nos atirar comida à cara. Ao jantar chega à mesa com particular minúcia e não há noite em que desiluda.

 

Mas lá por estarmos num navio em andamento, não quer dizer que a vida da cozinha seja diferente de qualquer outra cozinha profissional. Só é diferente no número de refeições que é preciso servir. Por aqui, alimentam-se duas mil bocas esfomeadas todos os dias.

 

Há estações para tudo: o pão, as sobremesas, os grelhados e muito mais, há uma só para testar se os pratos estão com a qualidade desejável e podem seguir para a sala. O calor é muito mas as equipas que, para além de já terem o árduo trabalho de funcionar numa cozinha profissional desta dimensão, o fazem sem ir a casa meses a fio, não parecem queixar-se.

 

 

O abastecimento principal é feito no porto de partida, todas as semanas. Dizem-nos que é possível incluir produtos locais de cada porto de paragem mas que isso não pode afetar o orçamento que o chef tem para gerir. Dizem-nos também que muita da comida vem da Holanda, do fornecedor principal da companhia de cruzeiros, apesar de termos partido de Itália, de onde certamente só teriam vindo coisas boas. Mas a Holanda serve bem para o meu palato exigente, não me queixo.

 

 

Eram duas da tarde quando andámos por ali. O serviço de almoço já tinha terminado e já se pensava no jantar. No final, ofereceram-nos biscoitos acabados de sair do forno. Eu teria ficado por ali a cozinhar, mas só durante umas horas que claustrofobia contínua não é coisa que me agrade.