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Quanto Mais Quente Melhor

Doces com coração (e umas coisas salgadas pelo meio). Food porn descarado da cozinha (e das viagens) de uma jornalista doceira.

Viaggio in Italia - Parte 2

 

Depois de umas fatias de pizza inesquecíveis em Nápoles, seguimos viagem.

Por todo o país tivemos encontros imediatos com bons gelados. Mas o coup de foudre, não ao primeiro olhar mas ao primeiro contacto com as papilas gustativas, só aconteceu em Roma. Mais precisamente na Via Uffici del Vicario, na gelataria Giolitti. A mais antiga de Roma, dizem, perto do Panteão e nada fácil de encontrar mesmo com um mapa nas mãos (ou então tudo se explica pela inaptidão em nos orientarmos por novos territórios).

 


Uma longa bancada com dezenas de sabores (esta imagem mostra apenas uma parte dessa bancada). Alguns facilmente identificáveis. Outros nem tanto. Cocomero é Melancia. Lamponi é Framboesa. Visciole é Ginja. E fico-me apenas pelos avermelhados. Ao lado do Cioccolato temos até Champagne. Podemos escolher entre um Coni Piccoli, de tamanho normal. Um Medi, de tamanho médio e com o rebordo coberto de chocolate, e um Grandi, ligeiramente maior e com rebordo de chocolate branco.  Existe ainda um Giganti mas imagino que seja apenas para quem está demasiado entusiasmado
Avançámos sem medo para a segunda hipótese: um cone médio com três sabores. Tarefa árdua, a de escolher apenas três sabores no Giolitti... Para nos apaziguar a inquietação, ouvimos uma palavra em jeito de pergunta: "Panna?" E fomos surpreendidos com uma dose farta de chantilly pousada em cima do nosso gelado.

 Obrigado, Giolitti. Obrigado, Itália...

flickr / adamspencercook

Viaggio in Italia - Parte 1

 

Voltei há alguns dias de uma viagem por Itália que, em números, se pode resumir desta forma: 2300 quilómetros percorridos dentro de 1 carro com mais 3 pessoas e algumas dezenas a pé por 7 cidades italianas. Tudo em 9 dias.

 

Pelo caminho fui-me alimentando, claro. Umas vezes melhor, outras pior. Decidi escolher dois exemplos, retirados do catálogo de ex-libris gastronómicos transalpinos. Uma pizza em Nápoles e um gelado em Roma. Clichés? Talvez. Mas clichés deliciosos.

 

Começamos pela pizza. O tesouro fica perto do centro histórico de Napóles e não é difícil de encontrar. Será provavelmente no local com mais pessoas à porta. Chama-se L' Antica Pizzeria da Michele e ostenta com orgulho, logo abaixo do nome, o aviso de que aquela é a única sede em Itália. Estão feitas as apresentações. Já podemos entrar. Esperam-nos quatro surpresas.

 

flickr / usc_ty

 

A primeira está no menu. Um menu de duas modestas pizzas, o que, para ser correcto, torna ainda mais simples a escolha. "Uma de cada, por favor." Até porque cada uma custa apenas 5 euros (esta é a segunda surpresa).

 

Enquanto esperamos pelas nossas pizzas (uma Margherita, com tomate, queijo, azeite e manjericão, e uma Marinara, com tomate, alho, azeite e oregãos, ambas de massa fina mas nunca seca) reparamos numa foto de Julia Roberts envolvida licitamente com uma fatia de pizza. A espera leva-nos a identificar que, nessa imagem, a atriz está na Pizzeria da Michele, até que (terceira surpresa) acabamos por perceber que essa imagem faz parte de uma das cenas do filme "Comer, Orar e Amar"

 

A última surpresa fica para o final quando pomos verdadeiramente mãos à obra. Depois de dar a primeira trincadela numa fatia de pizza, a personagem de Julia Roberts diz: "Estou apaixonada. Estou a ter uma relação com a minha pizza." Torcemos o nariz à hipótese de fazer nossas as palavras de uma personagem de um filme onde se parte em viagem para "Comer na Itália, Orar na Índia, Amar na Indonésia" mas não há outra opção.

 

 

                                                             flickr - keepwaddling1                                                                 

Já sabem o que fazer se alguma vez estiverem por Nápoles (e conseguirem escapar ao espírito frenético de uma cidade que não se deixa conquistar à primeira).
(Brevemente: a segunda parte deste post, dedicado a um gelado inesquecível provado em Roma)

  

Bruschetta à mamã italiana

Os resquícios das férias ainda me estão no sangue e nas próximas semanas já sabem que vão ter de aturar os meus pratos de inspiração italiana ou grega ou de qualquer outra culinária que se tenha cruzado no meu caminho nos dias de descanso.



 

Esta receita quase não se pode chamar receita. É mais um processo de montagem do que uma receita. Por isso, não há desculpas. Mesmo quem não gosta de pôr os pés a menos de quatro metros de um balcão de cozinha, consegue fazer isto.

 

É uma das entradas mais apreciadas em Itália e cá em Portugal encontra-se à fartazana em qualquer restaurante italiano que se preze. A receita original junta apenas pão tostado com azeite, alho e sal. Mas depois há muitas variações sobre o que se pode colocar no topo.

 

Esta talvez seja a forma mais tradicional de montar a bruschetta, com os mais simples e genuínos sabores de Itália.

 

Ingredientes (para 2 pessoas):

4 pequenas fatias de pão (à vossa escolha, eu usei um pão de cereais da Eric Kayser)

Uma mão cheia de tomates cereja

2 dentes de alho

Folhas de manjericão Q.B.

Azeite

Sal

Pimenta

 

Começo por cortar os tomates cereja em pequenos pedaços em cima de uma tábua. Depois pico as folhas de manjericão e junto-as aos tomates. Tempero com sal e pimenta e deito por cima um pequeno fio de azeite. Com as mãos, envolvo os três ingredientes. Assim, enquanto preparo o pão, os sabores ficam como que a marinar.

 

Aqueço uma frigideira ou uma grelha sem qualquer gordura e tosto aí as fatias de pão até ficarem douradas. Se uma pontinha chamuscada aparecer numa ou noutra melhor, mais sabor é sempre bem-vindo.

 

Esfrego o alho cortado em metades nas fatias de pão, com delicadeza, nada de empapar o pão com alho.

 

Coloco as fatias de pão no prato em que vou servir e, em cima de cada uma, vou dividindo a mistura de tomate e manjericão. Para terminar, deito mais um fio de azeite por cima de cada fatia.

 

Lá em casa não gostamos de comer bruschetta com talheres. À mão é mais prático e não escapa nenhum bocadinho de tomate. Aconselho o mesmo método.

Um bonito Tiramicello com morangos

Prometi-vos histórias de viagens e receitas com inspirações recolhidas nas férias. Esta é a primeira experiência.

 

 

É difícil de fazer asneira com comida italiana, toda a gente gosta. Quando pensamos em sobremesas vindas do país em forma de bota, lembramo-nos imediatamente de duas coisas: gelado italiano e tiramisu.

 

Comigo da viagem veio uma garrafa de Limoncello, o mais célebre e amarelo licor de limão dos nossos amigos italianos, e uma enorme vontade de o usar em sobremesas.

 

Depois de umas quantas pesquisas de receitas e de uma recolha de ideias aqui e ali, nasceu esta espécie de tiramisu reinterpretado (uma palavrinha à chef só para me armar em elitista) que é um sério "contender" a roubar o lugar de sucesso à receita original. Chamei-lhe Tiramicello (Tiramisu + Limoncello).

 

Fácil, de comer com os olhos ainda antes de dar uma colherada e com garantia de satisfação.

 

Ingredientes

 

Para a calda:

1 chávena de Limoncello

1 chávena de água

1/4 chávena de açúcar

3/4 chávena de sumo de limão

 

Para o creme:

2 pacote de natas

1 embalagem de queijo mascarpone (250 g)

1 iogurte grego ligeiro

1/2 chávena de açúcar em pó

3/4 de um frasco de lemon curd (comprei o da Mackays)

 

Para o resto:

Mais ou menos 40 palitos de champanhe (2 embalagens)

500g de morangos cortados em quartos

Amêndoas tostadas laminadas

Lemon curd

 

Comecei por fazer a calda, juntando num tachinho todos os ingredientes e levando ao lume. Mexi e deixei ferver durante dois ou três minutos. Retirei do lume e deixei arrefecer completamente.

 

Depois, atirei-me ao creme. Bati as natas até formarem picos suaves e juntei depois o açúcar, batendo mais até ficarem mais firmes (mas não demasiado, não queremos cá manteiga em vez de chantilly). Nesta mistura envolvi com cuidado o mascarpone, o iogurte e o lemon curd.

 

A seguir a isto, podemos começar o processo de montagem do nosso Tiramicello. Num pirex grandinho, coloquei primeiro uma fina camada de creme, seguida de uma camada de palitos que molhei na calda de limoncello (só um mergulho, muito tempo desfaz os palitos). Por cima, distribuí parte dos morangos em quartos.

 

De seguida, repeti este processo mais uma vez e terminei com o resto do creme no topo. Convém não abusar na quantidade de creme que se põe nas duas primeiras camadas para sobrar suficiente para o topo.

 

Rematei com umas metades de morangos mais bonitas e uns salpicos de lemon curd. Mesmo antes de servir, coloquei em cima de tudo isto as amêndoas laminadas.

 

Um fogo de artifício entre o ácido do limão, o doce dos palitos embebidos em Limoncello e a frescura dos morangos.